A voz simpática no outro lado da linha telefónica
A invenção do telefone promoveu o desenvolvimento rápido da telefonia no território esloveno. No início, os equipamentos eram ligados entre eles diretamente, mais tarde, com o número crescente de assinantes, começou a ficar pouco prático e demasiado caro. Para estabelecer uma conexão entre diferentes assinantes telefónicos, começaram a construir centrais telefónicas em que a conexão era feita manualmente, pelos telefonistas. Os assinantes telefónicos ou as centrais telefónicas domésticas mais pequenas, usadas por exemplo nos hotéis ou nas fábricas, eram conectados para centrais telefónicas públicas manuais.
A primeira central telefónica manual no território esloveno foi inaugurada no dia 16 de outubro de 1897, no Palácio dos Correios novo em Liubliana. Eram conectados nela 89 assinantes e uma cabine telefónica pública. Naquele dia, o jornal Slovenec/Esloveno escreve que em Liubliana, “começou o tilintar para nunca mais acabarem as chamadas pelo mundo fora”. Dois meses mais tarde, foi aberta também a central telefónica de Maribor, a segunda cidade eslovena, com 19 assinantes e uma cabine telefónica pública. Ambas as centrais faziam parte da conexão telefónica interurbana Viena−Graz−Maribor−Liubliana−Trieste com uma extensão total de 505 quilómetros.
Por razões económicas e sociais, no final do século XIX, os postos de telegrafo, começaram a empregar sobretudo mulheres telegrafistas e telefonistas. As mulheres eram mais habilidosas e mais minuciosas nesse trabalho, ao mesmo tempo, os assinantes preferiam ouvir uma voz agradável de mulher da central, que, por causa do tom da voz, também era mais compreensível. A profissão de telegrafista e telefonista tornou-se assim uma profissão tipicamente e quase exclusivamente uma profissão feminina.
O trabalho nas centrais telefónicas manuais era exigente e responsável. Elas costumavam fazer até 300 ligações por dia. Acompanhavam o tempo todo as conversas e cuidavam de que as linhas fossem utilizadas o máximo possível. As telefonistas nas linhas internacionais sabiam falar várias línguas e, pelas diferenças de fuso horário, trabalhavam de dia e de noite.
Depois da Grande guerra, a administração dos correios eslovena tomou as medidas necessárias para o tráfego telefónico prosperar. As mulheres iam-se afirmando cada vez mais e, pouco a pouco, iam ganhando cada vez mais direitos em relação ao seu trabalho e um salário mais elevado. Antes de tomar posse, as candidatas tiveram que passar por cursos de especialização, durante o tempo todo aperfeiçoavam o seu conhecimento e também participavam nas competições. Depois da Segunda Guerra Mundial, começaram a formar os cegos e os deficientes visuais para o trabalho nas centrais telefónicas, primeiro nos cursos para telefonistas, mais tarde, em 1962, foi criada em Škofja Loka uma escola especial, chamada Escola para telefonistas.
A modernização dos serviços telegráficos, a automatização gradual do tráfego telefónico e a predominância do uso das novas tecnologias levaram ao declínio da profissão de telefonista e de telegrafista. Contudo, as centrais telefónicas manuais continuaram a ser usadas no território esloveno também na segunda metade do século XX. Até ao final do ano 1985, havia na Eslovénia ainda oito centrais telefónicas manuais, incluídas na rede. A última central telefónica manual no nosso território deixou de funcionar em setembro de 1987, na agência dos correios em Jakobski Dol em Slovenske gorice, de onde foi trazida para o nosso museu, Museu dos Correios e das Telecomunicações, parte do Museu Nacional da Técnica da Eslovénia.
A Mulher Telefonista do séc. XIX, em Portugal
Uma das profissões mais documentadas e que ilustra a evolução das telecomunicações é a da telefonista. As mulheres que trabalhavam nas centrais telefónicas, como telefonistas, eram também conhecidas como “as meninas dos telefones”.
Em 1882, empregavam-se cerca de nove telefonistas em Portugal, e em 1900 havia 15 telefonistas no Porto e 20 em Lisboa, com salários mensais entre os três e dez mil reis, para uma atividade diária de oito horas.
O serviço era assegurado 24h por dia. O serviço noturno, das 20 às 6 horas da manhã, era realizado por homens, que desempenhavam outras atividades profissionais durante o dia.
Porém, nem todas as mulheres podiam ser admitidas para telefonistas, era-lhes exigido um conjunto de requisitos. Desde logo, tinham de ser jovens entre os 16 e 20 anos e solteiras, o que se justificava pelo trabalho aos fins de semana a que estavam sujeitas e que não era aceite no casamento. Tinham de ter no mínimo 1,50 de altura, ter boa audição, e, uma voz e dicção bem percetíveis.
Para estas profissionais, como para mecânicos, guarda-fios e boletineiros, as habilitações mínimas para ingresso na carreira eram as da instrução primária.
Após um exame médico exaustivo na admissão da telefonista, ela entrava na Escola Técnica para um curso de apenas dois meses, onde aprendia os códigos da telefonista e do sistema dos telefones, a manipulação de chamadas e os regulamentos da Companhia.
Qualidades de discrição, eficiência, dedicação e esforço eram exigidos em todos os momentos do atendimento ao público.
No princípio do século XX, na admissão das telefonistas, havia um período de prática de um mês, podendo chegar a três meses, em que elas não ganhavam.
Uma telefonista Odília Guimarães Seixas, entrada em 1929 para a central nortenha da Picaria, de acordo com os registos, recebia 180,00 escudos de primeiro ordenado. Com o 2º ano do liceu, Odília até ganhava razoavelmente bem a vida a fazer xailes, mas preferiu ser telefonista pelo tipo de trabalho e pelo estatuto que era compensado pela enorme satisfação no contacto com o público – conhecia o nome de quem lhe pedia as chamadas, os gostos, os hábitos e até mesmo os humores.
As telefonistas eram obrigadas a usar chapéu e meias, enquanto os empregados vestiam casaco e gravata.
Entre as dez e meia e as onze horas da manhã o número de chamadas chega a atingir as 3595, o que dava uma média superior de dez chamadas por minuto e empregada.
Até 1940, tanto na Europa como na América, caso as raparigas fossem casadas, ou viessem a casar, tinham de guardar em segredo para conservarem o emprego.
Nos tempos agitados de 1910 e mais tarde 1915, a imprensa também noticiava a heroicidade das “meninas dos telefones” que mesmo exaustas pelos difíceis e longos dias de guerra, asseguravam as comunicações, sempre com o mesmo profissionalismo e simpatia. No caso de 5 de outubro de 1910, duas bombas vindas talvez do Terreiro do Paço, atravessaram a claraboia do prédio onde estava a estação da Rua da Conceição e rebentaram dentro do mesmo, e as telefonistas não saíram do seu posto de trabalho!
Quando no início da década 30 se deu o grande avanço tecnológico da automatização da rede telefónica (designado de “período de ouro” da APT), e com isso o crescimento da procura do serviço telefónico, a intervenção da telefonista foi perdendo gradualmente o tom pessoal, caindo o seu trabalho a pique. No entanto, isto resultou numa melhoria significativa na qualidade do serviço prestado, em tempo e nos custos de mão de obra, o que viria a traduzir-se num enorme benefício para os assinantes, já que as tarifas telefónicas ficavam mais baratas e acessíveis.
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Telefonistas, 1891: Fundação Portuguesa das Comunicações Iconographic Archive | Telefonistas na central telefónica manual da agência dos correios de Maribor 1, 1919–1920. Conservado por: Museu Nacional da Técnica da Eslovénia |